Reserva sob pressão de desmatamento no Pará terá concessão para restauração florestal
Com área equivalente a dez mil campos de futebol, anúncio de leilão da APA Triunfo do Xingu foi feita pelo governador do Pará, Helder Barbalho
Ana Lucia Azevedo
15/11/2024
A unidade de conservação sob maior pressão por desmatamento em áreas protegidas na Amazônia foi escolhida para se tornar objeto da primeira concessão pública para restauração, manejo florestal e geração de créditos de carbono. O governador do Pará, Helder Barbalho, fará o anúncio da concessão de 10,3 mil hectares da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu na COP 29, em Baku, no Azerbaijão, que vai até dia 22.
O governador explica que a concessão por 40 anos dessa parcela da APA Triunfo do Xingu será negociada na B3. É novo modelo de restauração e captação de recursos para redução de emissões de CO2 que o governo do Pará, espera ver replicado. A capital do estado, Belém, sediará a COP30, em 2025.
Área era grilada
No total, a APA tem cerca de 1,68 milhão de hectares. A área sob concessão é um pedaço de 10,3 mil hectares transformado na Unidade de Recuperação Triunfo do Xingu (URTX).
- Essa área da APA havia sido grilada, o estado conseguiu recuperar na Justiça. A concessão é uma oportunidade de restaurar a área e gerar recursos para a recuperação da floresta - afirma Helder Barbalho.
Triunfo do Xingu é um ativo potencialmente valioso no mercado de carbono justamente devido a seus problemas. Como Barbalho explica, a recuperação e a conservação de áreas de floresta sob pressão são critérios de valor num mercado cujo objetivo é justamente evitar emissões de CO2. O carbono de restauração, por isso, é valorizado.
E pressão não falta à APA Triunfo do Xingu. Ela fica no epicentro do desmatamento histórico da Amazônia, entre os municípios paraenses de Altamira e São Felix do Xingu. Mesmo com a queda do desmatamento registrada desde 2023 na Amazônia, a APA continua sob pressão, numa região em que grilagem, gado e soja avançam sobre a floresta.
Ela figura em primeiro lugar do ranking das unidades de conservação com mais desmatamento na Amazônia, segundo o boletim de setembro, o mais recente, do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.
Só em setembro cerca de nove mil hectares de floresta foram derrubados na APA, quase a mesma área que será oferecida para concessão.
O Pará fez este ano o maior negócio de mercado de carbono do Brasil. Negociou 12 milhões de toneladas de carbono a um valor recorde por crédito de carbono jurisdicional. No total, a negociação de carbono deve render cerca de R$ 1 bilhão ao estado.
Cada crédito foi vendido por US$ 15 _ até agora o valor mais alto tinha sido obtido pela Costa Rica, US$ 10. Um crédito carbono equivale a uma tonelada de CO2 ou gás-estufa equivalente evitada ou removida da atmosfera.
No sistema jurisdicional, a gestão dos créditos de carbono é aplicada dentro de limites geográficos determinados, que podem ser um estado, como no caso do Pará. O governador espera negociar ainda mais nos próximos anos. Segundo ele, a empresa certificadora (que mensura e avalia os créditos) estima que o estado terá 2026 mais 156 milhões de toneladas de carbono para negociar.
Ele diz que uma empresa estadual de ativos ambientais foi criada para gerir esses créditos e que os recursos serão repartidos com povos indígenas e tradicionais e a parte do estado será empregada em política de redução de emissão.
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/11/15/reserva-sob-pressao-de-desmatamento-no-para-tera-concessao-para-restauracao-florestal.ghtml
UC:APA
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