Viagem ao centro da Terra

FSP, Turismo, p. D4 - 09/02/2017
Viagem ao centro da Terra

BRUNO MOLINERO
ENVIADO ESPECIAL A IPORANGA (SP)

A escuridão é completa. Tão profunda que não faz a mínima diferença ficar de olhos abertos ou fechados. O silêncio também é sepulcral, interrompido apenas pelas gotas d'água que caem sobre as pedras, como se dezenas de torneiras com defeito estivessem por ali.
Quando o guia reacende a luz do capacete e autoriza os visitantes a fazerem o mesmo, todos suspiram aliviados. Com a lanterna, reaparecem estalactites, estalagmites e outras formações rochosas de nomes curiosos, como cortinas, travertinos e helictites, que ficam no Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira), em São Paulo.
Com mais de 250 cavernas catalogadas, ali está um dos parques mais antigos do Estado. Criado em 1958 em uma área de mais de 35 mil hectares, o local se tornou atrativo turístico a partir da década de 1980 -o que mudou a vida das cidades de Iporanga e Apiaí (a cerca de 315 km da capital), que têm no turismo uma das principais atividades.
A brincadeira de apagar as luzes no meio da caverna seria quase impossível até 2008. Nessa época, eram usadas carbureteiras para iluminar a escuridão. Como esse tipo de lanterna funciona com combustão, não pode ser apagada e acendida com tanta facilidade. Além disso, deixava um cheiro forte no ar e liberava resíduo que escurecia as rochas.
Esse e outros danos ambientais (que passavam pela visitação sem controle e por pessoas que levavam pontas de estalactites como recordação para casa) fizeram o Ibama proibir a entrada de turistas no local no ano de 2008.
Foi então que o governo do Estado precisou arrumar a bagunça. Após dois meses de interdição, criou um plano de emergência que permitiu a abertura 12 cavernas e obrigou a presença de guias nas visitas (cerca de R$ 240 por grupo). O ingresso custa R$ 13.
A ideia era que em dois anos houvesse um plano definitivo de manejo para a área. Mas isso não aconteceu, e o Petar funciona em caráter provisório até hoje.
SECOS E MOLHADOS
Toda essa história da interdição ainda gera confusão para os turistas, que não sabem ao certo se o parque está realmente funcionando. Mas está. E a todo o vapor.
A melhor maneira de chegar ao Petar, partindo de São Paulo, é de carro. São cerca de quatro horas de trajeto. A partir de Registro (SP), dirige-se por estradas menores cercadas por bananeiras com sacos plásticos para proteger os frutos. Então chega-se a Iporanga, onde sapos musculosos atropelados na pista dão o tom da paisagem típica de interior.
Na beira do rio Ribeira, a cidade guarda um pouco da arquitetura colonial. Mas para quem quer aventura e cavernas a melhor opção é sair logo do centro e ir ao afastado bairro da Serra, onde estão as pousadas e o acesso aos principais núcleos do Petar: Santana e Ouro Grosso.
Santana é o mais pop. A caverna que leva o mesmo nome do núcleo é a segunda maior do Estado e uma das mais bonitas. Cheia de estalactites ("cones" de rocha presos ao teto) e estalagmites (presos ao chão), ela oferece caminhos entre rochas e goteiras por cerca de 800 metros -a caverna é muito maior, passa dos 5 km, mas o plano emergencial só permite acesso a essa pequena parte.
Entre as outras 11 grutas visitáveis, há um pouco de tudo: com mais ou menos formações geológicas, com aranhas e morcego ou sem nenhum bicho e até com rios que passam no meio delas.
Na Água Suja, por exemplo, caminha-se por um curso d'água. No fim, uma cascata convida turistas mais corajosos a mergulhar -mesmo com o frio da gruta, que pode chegar a 15o C. Ali, a água bate na cintura. Já na caverna Alambari de Baixo, o nível do rio pode chegar à altura do peito.
Outra que impressiona é a Casa de Pedra. Com uma entrada de 215 metros de altura, entrou no "Guinness Book" como a caverna com a maior abertura do mundo.
O Petar, porém, vai além dos subterrâneos. Com mata atlântica preservada, ele guarda cachoeiras, áreas para piquenique, trilhas e animais como a onça-pintada.
Mas o melhor está nas cavernas, claro. Onde mais é possível brincar de Indiana Jones em São Paulo?

Preste atenção PETAR
Santana
É a caverna mais visitada. Nos 800 metros abertos ao público, conhecem-se estalactites, estalagmites e outras formações. Em 1985, Hermeto Pascoal usou as pedras da gruta como percussão
Água Suja
Para visitá-la, é preciso molhar as roupas e os tênis ao caminhar por dentro de um riacho. No fim, há uma pequena cachoeira onde turistas podem se banhar
Morro Preto
Também no núcleo Santana, conta com uma espécie de mirante, com vista privilegiada para a entrada da caverna à contraluz. As estalactites formam uma moldura ideal para selfies
Alambari de Baixo
Fica no núcleo Ouro Grosso e também faz visitantes andarem por um rio. A água chega ao peito, e há trechos que exigem a ajuda de cordas

Pacotes
R$ 400
Preço por pessoa para 3 noites durante o fim de semana na Pousada da Diva, em Iporanga (a 303 km da capital). Valor para grupos de quatro pessoas. Inclui passeios, café da manhã, lanche na trilha, jantar no sábado e almoço no domingo. Sem transporte terrestre. Reservas: parqueaventuras.com
R$ 920
Valor por pessoa para 3 noites em quarto duplo na Pousada das Cavernas em Iporanga. Inclui café da manhã, dois lanches na trilha e três refeições na pousada. Sem transporte terrestre. Com passeios pelo Petar. Reservas: adventureclub.com.br
R$ 1.890
Preço por pessoa para quatro noites em quarto triplo na Pousada da Diva, em Iporanga. Inclui passeios pelo Petar, pensão completa e transporte terrestre de São Paulo. Reservas: pisa.tur.br

FSP, 09/02/2017, Turismo, p. D4

http://www1.folha.uol.com.br/turismo/2017/02/1856891-petar-tem-mais-de-250-cavernas-mas-so-12-delas-abertas-para-turistas.shtml
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