Índios contra a natureza?

Jornal O Estado - http://www.oestadoce.com.br - 06/07/2010
Mutirão para limpar região da Aldeia da Ponte, de etnia Tapeba, está marcado para amanhã. O que acontece que faz os índios sujarem como o homem branco?

Quem faz o trajeto pela Avenida Mister Hull de Fortaleza a Caucaia encontra, à margem da pista, um centro cultural que parece uma oca indígena. Ao seu redor, os viajantes leigos avistam o que seria uma favela, meio encrustada no mato.

Aquela construção é o Centro Cultural de Artesanato Tapeba e a 'favela' ao seu redor é, na verdade, uma das aldeias indígenas da etnia. A chamada Aldeia da Ponte possui várias comunidades instaladas por aquela região, dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Estuário do Rio Ceará.

De acordo com a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), alguns dos principais impactos de degradação existentes naquela APA são decorrentes da ação antrópica, ocasionada pela concentração urbana com sérios problemas de infraestrutura e saneamento básico, além de desmatamento e queimadas no mangue e pesca predatória.

Se a ação lesiva da região é antrópica, a população indígena está incluída no pacote de culpados. E aí chegamos a um aparente paradoxo. Os índios, sempre associados à natureza - com a qual sempre viveram em relação de comunhão e dependência - estariam entre os responsáveis por sua degradação?

Como se vê da estrada, a cultura indígena sofreu uma 'invasão branca', e isso não é nenhuma novidade. Mas, as consequêncas da colonização são sentidas até hoje. Quando o território da aldeia foi urbanizado, o conflito cultural trouxe consigo desdobramentos econômicos e estruturais. A tradição indígena se mostra incompatível com o progresso do concreto e da superpopulação branca e o que vemos são as 'aldeias-favelas', como as da metrópole fortalezense. O índio foi empobrecido pelo homem branco.

Assim, sem dinheiro e educação de qualidade, presos entre sua cultura quase extinta e a invasão branca, os índios começam a produzir o lixo típico da industrialização. E, segundo Wanks Limaverde, representante da Autarquia Municipal de Patrimônio e Serviços Públicos de Caucaia, o caminhão de coleta não tem vias acesso a todos os setores da comunidade, sendo necessário, nessas regiões, que os índios levem seus lixos para um local determinado próximo à estrada, o que, por vários motivos não acontece.

"Há períodos do ano em que as vias da comunidade (situada em área de mangue) ficam inacessíveis e, pelo formato da pista, para entrar na aldeia, o caminhão precisa ocupar toda a estrada, causando perigo" - diz Wanks.

Para conscientizar a população indígena e tentar atenuar a situação enquanto o problema não é resolvido, a Semace promove várias ações, referentes ao Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Efluentes. Coordenadas pela gerente da APA do Estuário do Rio Ceará, a geógrafa Vanessa Mariano, já foram realizadas palestras de sensibilização da comunidade e oficinas de papel reciclado, puffs e garrafas PET.

As ações também visaram orientar a tribo para a geração de renda e a reutilização dos resíduos gerados na aldeia e tiveram o apoio de representantes da Fundação Nacional de Saúde - Funasa.

Mutirão
Estava programado para o último dia 1 um mutirão com a comunidade para a limpeza do lixo que se espalha pela aldeia. A prefeitura de Aquiraz liberou caçamba e 10 funcionários para ajudarem na limpeza, que contaria com cerca de 150 índios convocados. Mas a chuva que caiu na região metropolitana por toda a manhã inviabilizou a coleta.

No entanto, aquela manhã nao foi de todo produtiva. Enquanto o caminhão-caçamba retirava, em caráter emergencial, o lixo domiciliar, as lideranças da comunidade entraram em acordo com Wanks Limaverde: o caminhão do lixo passará a coletar o lixo duas vezes por semana em dias e horários fixados por ambas as partes. Nos locais em que não for possível seu acesso, os moradores se comprometeram a juntar o lixo perto da pista, em local apropriado.

O mutirão, enfim, acontecerá amanhã, quarta-feira (7), quando Semace, Funasa, autoridades locais e lideranças indígenas farão a limpeza da APA, que se encontra bem suja.

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PIB:Nordeste

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